Projeto pessoal de Alejandro Vigil, enólogo-chefe da Catena, e de Adriana Catena, filha de Nicolas Catena, os vinhos de El Enemigo são a mais pura expressão do que de melhor se produz hoje na Argentina
De tempos em tempos surge no cenário vitivinícola um fato novo, que nos encanta e nos instiga, e nos faz pensar na infinita capacidade de criação dos enólogos, que sempre estão buscando algo diferente e que pode mudar a visão de uma determinada região ou de um país.
El Enemigo nasceu da decisão de Adriana e Alejandro de fazer um vinho juntos, que pudesse representar o profundo respeito de ambos pela história e pela tradição, e ao mesmo tempo mostrasse irreverência face ao estado das coisas na Argentina.
É mais do que sabido que a Argentina é o país da Malbec, uva do sudoeste da França que encontrou no vizinho país locais de clima e solo perfeitos para desenvolver seus melhores atributos.
Mas, quando alguém inquieto e genial como Alejando Vigil, engenheiro agrônomo especialista em solos e enólogo-chefe da Catena desde 2002, está no comando, tudo pode acontecer.
E não é que Alejandro escolheu a Cabernet Franc para ser sua uva de combate, se é que podemos fazer tal ousada afirmação, subvertendo da lógica e saindo da zona de conforto, o que acabou por dar origem a vinhos simplesmente espetaculares e de caráter único, que surpreenderam a crítica internacional e mereceram elogios unânimes em todo o mundo.
A Mistral, importadora que representa os vinhos de El Enemigo (e também da Catena) no Brasil, organizou uma extensa degustação dos vinhos disponíveis no Brasil, conduzida por Constanza Hartung, gerente da exportação da vinícola e profunda conhecedora de todos os detalhes que envolvem a produção dos vinhos.
Constanza nos contou que a primeira providência de Alejandro foi selecionar, entre os vinhedos de propriedade da Catena, aqueles que melhor se ajustavam à sua filosofia, dando especial atenção à densidade de plantação, que nos vinhedos de El Enemigo varia de dez mil a doze mil plantas por hectare e à quantidade de cachos por planta, que foi limitada à incríveis dois cachos.
Outro diferencial instituído por Alejandro é a ,colheita múltipla onde as uvas são colhidas em diferentes momentos de maturação, vinificadas separadamente e posteriormente os vinhos passam pela mescla dos diferentes vinhos em proporções determinadas pelo enólogo, garantindo maior complexidade e alta qualidade.
O passo seguinte foi pensar na vinificação, e para tanto Alejandro escolheu focar na fruta, usando ovos de cimento e piletas de concreto para a fermentação e barricas usadas de carvalho francês e americano para o amadurecimento. Não usar carvalho novo foi uma decisão mais que acertada, e a partir de 2016 ele decidiu usar “foudres” de 3000 litros, trazidos da Alsácia.
Atualmente a vinícola está localizada em Maipú e em processo de ampliação. Parte dos vinhos é vinificada nas instalações da Catena.
E as novidades não param na El Enemigo. Os projetos em desenvolvimento contemplam a uva Bonarda em quatro diferentes terroirs, em Junin, Rivadavia e San Martin, áreas hoje pouco lembradas pelos enófilos. Ainda virão novos vinhos da linha Gran Enemigo, que serão elaborados com uvas do Valle del Uco, reconhecida área de excelência de Mendoza, mais especificamente de Chacayes (Tupungato) e El Cepillo (San Carlos).
Os vinhos de El Enemigo
Durante a apresentação de Constanza, pudemos degustar sete vinhos de El Enemigo, o que nos permitiu avaliar o atual estágio de desenvolvimento da vinícola e constatar, de forma inequívoca, a excelência dos vinhos.
Vamos a eles...
1) El Enemigo Chardonnay 2015, elaborado com uvas de Gualtallary no Valle del Uco, fermentado em barricas de 500 litros de carvalho francês, com apenas 20% de fermentação maloláctica. O resultado é um vinho fresco e elegante, com aromas e sabores intensos de frutas perfeitamente maduras, notável acidez, perfeito equilíbrio e ótima pesistência. É o único vinho de Alejandro onde se usa carvalho novo.
2) El Enemigo Bonarda 2013 – uma agradável surpresa, elaborado com uvas provenientes de vinhedos de mais de 100 anos, plantados em Barrancas, um área bastante quente, onde os vinhos mostram-se algo deficientes em acidez. Para contornar esse problema Alejandro trabalhou esse vinho com o processo de co-fermentação, no caso, com Cabernet Franc de Gualtallary. Na degustação o vinho mostrou-se frutado, com notas florais, direto e com boa acidez, boa persistência e muito agradável
3) El Enemigo Cabernet Franc 2014 – vinho de entrada de gama, foi co-fermentado com 10% de Malbec, e já mostra a razão de Alejandro focar nessa estupenda, e subestimada, varietal. Aqui temos um vinho de aromas e sabores de frutas frescas, com notas florais, algo de especiarias e taninos muito finos e elegantes. Equilibrado e persistente, tem ainda ótima relação preço-qualidade.
4) El Enemigo Malbec 2014 – era previsível que Alejandro não abandonaria a Malbec à sua própria sorte e esse é um vinho quase que obrigatório na linha. Aqui a Cabernet Franc, colhida em quatro momentos diferentes de maturação, contribui com 15% do corte. Aqui se nota fineza e muita fruta escura, entremeada a notas florais (violeta), pureza absoluta, frescor, sabor delicioso, taninos finos e ótima persistência.
5) Gran Enemigo 2012 – segundo Alejandro, esse é um tributo aos cortes bordaleses do passado, mas sempre mantendo a Cabernet Franc como uva majoritária (50% no caso), complementada com Cabernet Sauvignon (25%), Malbec (10%), Merlot (10%) e Petit Verdot (5%), resultando num vinho austero e elegante, onde a complexidade de aromas e sabores se faz presente, com equilíbrio, maciez e agradável retro-olfato.
6) Gran Enemigo Agrelo Cabernet Franc 2015 – com a declarada intenção de replicar os grandes vinhos da Margem Direita da Gironde, em Bordeaux, Alejandro se supera nesse fantástico corte de Cabernet Franc 85% e Malbec 15%, provenientes do sagrado terroir de Agrelo, em Mendoza. A colheita foi feita em quatro etapas, num período de 45 dias, e o amadurecimento se deu em barricas de carvalho francês de 2º e 3º usos, para não esconder a fruta. Sob todos os pontos de vista esse é um vinho estupendo, arrebatador, suculento, delicioso e impressionante. Encanta desde o princípio com uma paleta de aromas que mescla a pureza da fruta com as notas do carvalho, bem representadas pelos toques balsâmicos, de chocolate e de fino tostado. Na boca é equilibrado, encorpado, saboroso, macio, longo e com taninos finíssimos. Um ícone instantâneo, pronto para beber, mas com grande potencial de guarda. Resistir à tentação de abrir a garrafa não será tarefa fácil.
7) Gran Enemigo Single Vineyard Gualtallary 2012 – vinho topo de gama, elaborado com uvas Cabernet Franc provenientes de um vinhedo único, plantado a incríveis 1.450 metros em Gualtallary / Tupungato. A primeira impressão é radicalmente diferente do vinho de Agrelo, já que aqui se privilegiou a elegância e a complexidade, com aromas mais contidos e refinados, fruta delicada (em contraste com a opulência do vinho de Agrelo), equilíbrio perfeito, taninos finíssimos, bom corpo e retro-olfato sutil. Nos pareceu muito jovem e reticente, mas esperamos reencontrá-lo no futuro, onde certamente terá desenvolvido seu imenso potencial. Um grande vinho, de guarda. A produção é minúscula, de apenas 230 caixas de 6 unidades por ano.
Mais informações em www.mistral.com.br